quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reorganização dos Valores

Os diversos discursos na área da educação ponderam sobre a inversão dos valores na conjuntura atual da sociedade, em outras palavras indicam a existência de ações por parte dos indivíduos equivocadas e distantes das práticas boas e de admiração coletiva. Ou seja, existe uma grande preocupação, não apenas na área da educação, como também no entorno da sociedade, que os indivíduos tenham perdido determinados valores que, em ultima analise, são fundamentais para o bom andamento social. Todavia quais são estes valores e como eles estão estabelecidos no discurso e na ação é que acabam sendo o essencial e objeto de discussão.

A sociedade contemporânea vivencia um dos seus momentos mais delicados, seja em relação à educação ou ao modelo adotado pelos variados países no mundo para com suas economias. A crise que aparentemente parecia estar superada ainda não teve fim, e a transferência de recursos públicos para salvar bancos privados como medida salvacionista da economia capitalista tem demonstrado um equivoco, visto que esta medida tem apenas gerado desemprego, pobreza e aprofundado o desmantelamento do Estado, que consequentemente não acaba garantindo o desenvolvimento regional, que busca dentre outras ações garantir o bem estar social ao conjunto da população.

A educação, como uma politica de Estado de diminuição das desigualdades sociais, tem por finalidade garantir, no movimento atual em que se encontra nossa sociedade, sujeitos apropriados de conhecimentos que possam exercer funções especificas no mundo do trabalho, em que atendam as demandas do modelo de produção capitalista. Nessa perspectiva de educação, a reorganização de valores acaba sendo, não apenas um discurso necessário, e sim um mecanismo para legitimar o argumento da ausência de interesse por parte dos educandos pela escola, razão esta quando analisam uma inversão de valores na sociedade atual.

Entretanto, quando refletimos a argumentação baseada na ausência de valores, é quase que fundamental fazermos uma analise referente aos exemplos de valores embutidos nos discursos de alguns indivíduos na área de educação. Sendo assim, pensar valores de maneira a reivindicar que a sociedade os retorne (ou as tenha), só poderá ter sentido se pensarmos valores como: solidariedade, fraternidade e bom senso entre os seres humanos, como também um projeto coletivo de sociedade, alimentado por homens e mulheres dispostos a enterrar o modelo consumista de sociedade enraizado na exploração da força de trabalho. Ou seja, se existem valores bons, são aqueles que a humanidade constituiu no decorrer de sua história, advento de relações amorosas com seus iguais de maneira a tornar cada sujeito humanizado. Não vejo outra forma, portanto, senão buscar nos debates referentes à educação, quando o discurso for traçado de indicativos de ausência de valores, os exemplos mais admiráveis na história da humanidade, de homens e mulheres corajosos que saciados de amor lutaram por um mundo prospero sem classes sociais ou divisão por cor e gênero.

Contudo, o discurso por vezes esvaziado, da necessidade de buscar valores coletivamente admirados, vem de encontro da inegável função de reorganizarmos certos valores, sejam nos espaços escolares ou não. A demanda por uma escola justa e universal, que encontre dentro de si todos ou todas que estejam em idade escolar sem distinção de classe ou cor, desafiou politicas de educação antes reduzidas a uma determinada elite que necessitava de escola. Ou seja, a educação brasileira por muito tempo foi apenas oferecida para uma diminuta parcela da sociedade e quando, o Estado, começou a oferecer educação para a maioria se viu despreparado. Dessa maneira, o discurso da ausência de valores nos sujeitos de hoje quando comparados ao passado, no que se refere ao ambiente escolar, acaba não apenas sendo argumentado pelo fato de que o mundo mudou em suas prioridades, mas em quem frequenta a escola ou tem acesso à educação. Reorganizar os valores tendo em vista o momento atual acaba sendo essencial para compreender que as desigualdades sociais produzem determinados valores como também os modifica. Argumentar valores no discurso é, para mim, se arriscar e acabar tendo um posicionamento reacionário. Pois se existe valores a reivindicar na escola ou em quem a frequenta, é a necessidade de humanização do modelo de sociedade existente, em outras palavras, a transformação do regime vigente de produção.

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