quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Indústria começa a deixar crise para trás

Setores que atendem o mercado interno já veem estoques normais e o retorno das encomendas
Depois do tombo nos primeiros meses do ano, a indústria dá sinais de que começou a se distanciar do pior momento da crise. Os níveis de estoques, que chegaram a bater recorde em janeiro, já estão menores e o ritmo de encomendas do varejo para o segundo semestre está mais forte na maior parte dos setores. A exceção fica por conta das indústrias voltadas para a exportação, que ainda patinam com a baixa demanda no mercado externo.
A recuperação do crédito, a queda na taxa de juros e as desonerações fiscais, como a redução do Imposto sobre Produtos In­­dustrializados (IPI), já provocam uma melhora no ritmo de produção. Alguns setores, como o de automóveis e de eletrodomésticos de linha branca, já trabalham, depois da prorrogação do IPI reduzido, com a expectativa de superar as vendas de 2008.
ultima = 0;

A Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos com as marcas Brastemp e Consul, sentiu um aumento de 20% nas vendas em maio e junho e já prevê fechar o ano com um aumento de 4% a 5%. “Com a redução do IPI vamos cumprir a meta para 2009, algo que inimaginável em abril, quando nossas vendas chegaram a cair 15%”, afirma Armando Ennes do Valle, diretor de relações institucionais. A empresa contratou 1,2 mil temporários nos últimos dois meses e efetivou 300 deles. “Vamos ter um segundo semestre muito bom”, prevê. Além da redução do IPI, a retomada do crédito e dos prazos de financiamento devem segurar as vendas.
Para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Ele­­troeletrônicos (Eletros), Louri­val Kiçula, as vendas de eletrodomésticos de linha branca cresceram 20% em junho por conta da redução do imposto e, se mantido esse ritmo, o setor deve fechar o ano com um aumento de 5% a 10% em relação a 2008. De acordo com ele, as encomendas estão “boas” para o fim do ano.
Fortemente vinculado ao ritmo da atividade econômica, o setor de embalagens também já sente uma melhora no cenário. “As encomendas voltaram ao normal”, diz Val­mor Picolo, diretor da Zival­plast, fabricante de embalagens plásticas de Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba. Segun­do ele, a empresa, que chegou a de­­mitir no início do ano, não só re­contratou o mesmo número de fun­cionários, como deve ampliar em 10% o quadro de 330 pessoas. De acordo com ele, a fábrica está ope­­rando com 95% da capacidade e serão investidos R$ 1,5 milhão pa­­ra ampliar em até 10% o potencial.
Automóveis
Embalado pela redução do IPI e pela volta do crédito, o setor automotivo bateu recorde de vendas no primeiro semestre, com a venda de 1.449.787 veículos, equivalente a um acréscimo de 3% ante igual intervalo do ano passado. O resultado fez a Associação Na­­cional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) a projetar para 2009 o melhor ano de sua história, com um aumento de 6,4% nas vendas em relação a 2008. Antes, a expectativa era de queda de 3,9%.
A Renault, com fábrica em São José dos Pinhais, que no início do ano chegou a suspender o contrato de trabalho de cerca de mil funcionários, chamou todos de volta até o início de junho e deve contratar mais gente nos próximos meses. Na semana passada, a empresa efetivou 63 novos empregados para a linha de utilitários em parceria com a Nissan e estuda a abertura de vagas para a fabricação de novos produtos a partir de agosto. A previsão agora é superar entre 4% e 5% o volume do ano passado (115 mil unidades). Mas o vice-presidente comercial, Christian Pouillaude, evita entrar no clima de “já ganhou”. “Teremos um fim de ano muito bom, mas as vendas devem cair quando o benefício for retirado. Os carros ficaram, em média, 5% mais baratos”.
De acordo com ele, a redução da taxa de juros e a volta do crédito e o fato de a economia brasileira não ser tão afetada pela crise são pontos positivos, mas existem ainda condições desfavoráveis. “Os bancos continuam mais seletivos na liberação dos recursos”, diz.
Natal
O segundo semestre tradicionalmente é melhor que o primeiro por conta das encomendas do Natal, e esse ano deve ganhar um impulso com a volta dos prazos mais longos de financiamento. “O período de julho a outubro é o de vacas gordas para o setor, não apenas por conta dos pedidos de fim de ano, mas também porque nessa época começam a sair as antecipações de décimo terceiro salário e são fechadas negociações salariais de categorias de peso, o que contribui para elevar o consumo”, afirma Roberto Zurcher, economista do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Com foco nesse desempenho, a fabricante de computadores Positivo Informática reativou em maio o terceiro turno de produção na fábrica de Curitiba. Com isso, 480 profissionais voltaram ao trabalho, depois de uma paralisação desde o início do ano. A indústria de alimentos também está com a demanda em alta. “Esse setor é tradicionalmente o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela”, diz Domingos Martins, presidente da Frango a Gosto, de Arapongaso. A empresa, que abate 56 mil aves por dia, deve ampliar o quadro de funcionários, hoje de 725 pessoas, em 7% a 10%.

Nenhum comentário:

Postar um comentário