Setores que atendem o mercado interno já veem estoques normais e o retorno das encomendas
Depois do tombo nos primeiros meses do ano, a indústria dá sinais de que começou a se distanciar do pior momento da crise. Os níveis de estoques, que chegaram a bater recorde em janeiro, já estão menores e o ritmo de encomendas do varejo para o segundo semestre está mais forte na maior parte dos setores. A exceção fica por conta das indústrias voltadas para a exportação, que ainda patinam com a baixa demanda no mercado externo.
A recuperação do crédito, a queda na taxa de juros e as desonerações fiscais, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), já provocam uma melhora no ritmo de produção. Alguns setores, como o de automóveis e de eletrodomésticos de linha branca, já trabalham, depois da prorrogação do IPI reduzido, com a expectativa de superar as vendas de 2008.
ultima = 0;
A Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos com as marcas Brastemp e Consul, sentiu um aumento de 20% nas vendas em maio e junho e já prevê fechar o ano com um aumento de 4% a 5%. “Com a redução do IPI vamos cumprir a meta para 2009, algo que inimaginável em abril, quando nossas vendas chegaram a cair 15%”, afirma Armando Ennes do Valle, diretor de relações institucionais. A empresa contratou 1,2 mil temporários nos últimos dois meses e efetivou 300 deles. “Vamos ter um segundo semestre muito bom”, prevê. Além da redução do IPI, a retomada do crédito e dos prazos de financiamento devem segurar as vendas.
Para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, as vendas de eletrodomésticos de linha branca cresceram 20% em junho por conta da redução do imposto e, se mantido esse ritmo, o setor deve fechar o ano com um aumento de 5% a 10% em relação a 2008. De acordo com ele, as encomendas estão “boas” para o fim do ano.
Fortemente vinculado ao ritmo da atividade econômica, o setor de embalagens também já sente uma melhora no cenário. “As encomendas voltaram ao normal”, diz Valmor Picolo, diretor da Zivalplast, fabricante de embalagens plásticas de Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba. Segundo ele, a empresa, que chegou a demitir no início do ano, não só recontratou o mesmo número de funcionários, como deve ampliar em 10% o quadro de 330 pessoas. De acordo com ele, a fábrica está operando com 95% da capacidade e serão investidos R$ 1,5 milhão para ampliar em até 10% o potencial.
Automóveis
Embalado pela redução do IPI e pela volta do crédito, o setor automotivo bateu recorde de vendas no primeiro semestre, com a venda de 1.449.787 veículos, equivalente a um acréscimo de 3% ante igual intervalo do ano passado. O resultado fez a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) a projetar para 2009 o melhor ano de sua história, com um aumento de 6,4% nas vendas em relação a 2008. Antes, a expectativa era de queda de 3,9%.
A Renault, com fábrica em São José dos Pinhais, que no início do ano chegou a suspender o contrato de trabalho de cerca de mil funcionários, chamou todos de volta até o início de junho e deve contratar mais gente nos próximos meses. Na semana passada, a empresa efetivou 63 novos empregados para a linha de utilitários em parceria com a Nissan e estuda a abertura de vagas para a fabricação de novos produtos a partir de agosto. A previsão agora é superar entre 4% e 5% o volume do ano passado (115 mil unidades). Mas o vice-presidente comercial, Christian Pouillaude, evita entrar no clima de “já ganhou”. “Teremos um fim de ano muito bom, mas as vendas devem cair quando o benefício for retirado. Os carros ficaram, em média, 5% mais baratos”.
De acordo com ele, a redução da taxa de juros e a volta do crédito e o fato de a economia brasileira não ser tão afetada pela crise são pontos positivos, mas existem ainda condições desfavoráveis. “Os bancos continuam mais seletivos na liberação dos recursos”, diz.
Natal
O segundo semestre tradicionalmente é melhor que o primeiro por conta das encomendas do Natal, e esse ano deve ganhar um impulso com a volta dos prazos mais longos de financiamento. “O período de julho a outubro é o de vacas gordas para o setor, não apenas por conta dos pedidos de fim de ano, mas também porque nessa época começam a sair as antecipações de décimo terceiro salário e são fechadas negociações salariais de categorias de peso, o que contribui para elevar o consumo”, afirma Roberto Zurcher, economista do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Com foco nesse desempenho, a fabricante de computadores Positivo Informática reativou em maio o terceiro turno de produção na fábrica de Curitiba. Com isso, 480 profissionais voltaram ao trabalho, depois de uma paralisação desde o início do ano. A indústria de alimentos também está com a demanda em alta. “Esse setor é tradicionalmente o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela”, diz Domingos Martins, presidente da Frango a Gosto, de Arapongaso. A empresa, que abate 56 mil aves por dia, deve ampliar o quadro de funcionários, hoje de 725 pessoas, em 7% a 10%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário